Lord Jim - Cap. 10: Capítulo IX Pág. 112 / 434

'Caíam para trás uma vez e outra vez, levantavam-se a praguejar uns contra os outros, e de repente davam outra arremetida, num cacho... Era de morrer a rir, observou ele com os olhos baixos; depois levantou-os um momento para o meu rosto e, com um sorriso de desânimo, prosseguiu: 'Vai ser o divertimento da minha vida, por Deus!, porque hei-de ver ainda muitas vezes esse espectáculo grotesco diante dos olhos, antes de morrer! Baixou novamente a cabeça. 'Verei e ouvirei!... Verei e ouvirei!', repetiu por duas vezes, espaçadamente, com um olhar vago e inexpressivo.

Levantou-se.

«'Decidira conservar os olhos fechados', disse ele, 'e não podia. Não podia e não me importa que o saibam. Deviam passar por uma coisa semelhante antes de falarem. Eles que experimentem - e que se comportem melhor - essa é que é essa. Da segunda vez abri repentinamente os olhos e a boca. Sentira o barco mover-se. Mergulhara ligeiramente a proa e erguera-a suavemente -, devagar!, tão devagar que me pareceu uma eternidade... e tão pouco! Isto não tinha acontecido nos últimos dias. -\ nuvem correra para a frente do barco e esta primeira vaga parecia passar sobre um mar de chumbo. Não havia vida neste movimento. Chegou no entanto para que qualquer coisa se desmoronasse dentro da minha cabeça. Que teria feito o senhor? Está seguro de si, não está? Que faria se sentisse agora mesmo, neste instante, a casa a mover-se ligeiramente debaixo da sua cadeira? Dava um salto! Por Deus!, dava um salto donde está sentado e ia parar àquela moita de arbustos acolá.'

«Estendeu o braço para a noite, para além da balaustrada de pedra. Fiquei quieto. Olhou para mim muito sereno, muito grave. Não podia haver engano, ele estava agora a querer-me picar e cabia-me a mim não dar sinal, porque um gesto ou uma palavra poderia levar-me a alguma revelação fatal sobre mim próprio que oferecesse relação com o caso.





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