Lord Jim - Cap. 11: Capítulo X Pág. 130 / 434

'Parecia que tinham andado a rolar bêbados pelas sarjetas durante uma semana', descreveu ele com vivera; e depois murmurou qualquer coisa sobre ter sido o sol, naquela manhã, daqueles que prometem um :ia calmo. Os senhores conhecem este hábito que têm os marinheiros de se referir ao tempo a propósito de tudo e de nada. Pelo meu lado, as poucas palavras murmuradas foram suficientes para me permitirem ver o Sol asfaltando-se da linha do horizonte, o estremecimento de uma vasta ondulação a correr sobre todo o espaço visível do mar, como se as águas tivessem sentido um arrepio ao dar à luz o globo luminoso, enquanto o último sopro da brisa agitava o ar com um suspiro de alívio.

«'Estavam sentados à ré, apertados uns contra os outros, com o capitão no meio, como três mochos sujos, e olhavam fixamente para mim', ouvi-o dizer com uma intenção tão carregada de ódio que escorria dela uma vir- de corrosiva sobre as palavras vulgares que pronunciava, como um poderoso veneno a gotejar num copo de água; mas os meus pensamentos estavam presos àquele nascer do sol. Eu imaginava esses homens, prisioneiros da solidão do mar, sob o vazio translúcido do céu, o Sol solitário, .diferente àquele pontinho vivo, a subir a clara curva do céu como que rara contemplar de uma altura maior o seu próprio esplendor reflectido no calmo oceano. Chamaram-me da ré', disse Jim, 'como se fôssemos compinchas. Ouvia-os. Estavam a pedir-me que fosse razoável e deitasse fora aquele maldito pedaço de madeira». Porque havia de continuar com ela na mão? Não me tinham feito mal nenhum, pois não? Não tinha havido mal nenhum... Mal nenhum!'

«Congestionou-se-lhe o rosto como se estivesse a asfixiar-se.

«'Mal nenhum!', exclamou com força. 'Não lhe digo mais nada.





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