Lord Jim - Cap. 20: Capitulo XIX Pág. 209 / 434

«Arranjei-lhe emprego na loja do De Jongh, como sabem, e bem contente estava de lhe achar aquela colocação, mas começava a persuadir-me de que a sua situação tendia a piorar, até se tornar intolerável. Ele perdera uma parte daquela elasticidade que lhe permitira, depois de cada derrota, recompor-se e reencontrar a sua firmeza de ânimo. Um dia, ao desembarcar, encontrei-o de pé no cais; a água da baía e a do mar formavam um plano único que se elevava; desta maneira, os navios ancorados mais ao largo pareciam flutuar imóveis no céu. Esperava e seu escaler, que estavam a carregar com pacotes de provisões para um navio pronto a partir. Cumprimentámo-nos e ficámos silenciosos lado a lado. 'Com a breca!', disse ele de repente. 'Que trabalho extenuante!'

«Sorriu para mim. Devo dizer que sempre conseguia encontrar um sorriso. Não respondi. Sabia muito bem que não estava a falar da sua profissão; o trabalho em casa do De Jongh não era de matar. Contudo, logo que o ouvi dizer isso, convenci-me de que ele era realmente extenuante. Nem sequer olhei para ele. 'Não gostaria de partir para longe? Ir, por exemplo, para a Califórnia ou para a costa oriental? Vou ver o que se pode arranjar... ' Interrompeu-me um pouco desdenhoso. 'Qual a diferença?'... Senti imediatamente que ele tinha razão. Seria o mesmo; ele não procurava a paz; compreendi confusamente que aquilo de que ele estava à espera era qualquer coisa difícil de definir - uma nova oportunidade. Eu oferecera-lhe muitas oportunidade, mas apenas para ganhar a vida. E que mais podia fazer? A sua posição pareceu-me desesperada e lembrei-me das palavras do pobre Brierly: 'Deixe-o cavar um buraco de vinte pés e meter-se lá dentro:

Seria melhor do que esperar sobre a terra pelo impossível.





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