Contudo, nem mesmo disso se podia estar certo. Então, ali naquele instante, logo que o seu escaler se afastou, decidi ir consultar Stein, nessa mesma tarde.
«Este Stein era um comerciante rico e respeitado. Tinha na sua 'casa' (Stein & C.ª), uma espécie de sócio que, segundo a expressão do próprio Stein, 'se ocupava das Molucas'. Fazia grandes negócios com o interior e tinha aberto postos até nos cantos mais recuados para recolha de produtos diversos. Mas não era por causa da sua fortuna nem da sua respeitabilidade que eu estava ansioso pelos seus conselhos, mas porque era um dos homens mais dignos de confiança que eu conhecia. A luz suave de uma bondade simples, inteligente e incansável iluminava o seu rosto glabro, sulcado por profundas rugas verticais e pálido como o de um homem que sempre viveu uma 'ida sedentária, o que não era o caso. Usava o cabelo, ralo, penteado para atrás, de maneira a descobrir uma fronte maciça e poderosa. Aos vinte anos á devia ter com certeza o aspecto que tinha agora, aos sessenta. O seu rosto era de estudioso, apenas as sobrancelhas quase brancas e muito grossas e o olhar resoluto e perscrutador não estavam de acordo com esta aparência de errado. Alto e um pouco desengonçado, as costas ligeiramente curvadas e o seu sorriso inocente davam-lhe o aspecto de um homem sempre pronto a escutar com benevolência; os braços compridos e as mãos pálidas e grandes faziam gestos raros e precisos para designar ou para demonstrar. Descrevo-o em pormenor porque por baixo deste exterior, e juntamente com uma natureza justa e indulgente, este homem possuía uma intrepidez de espírito e uma coragem física a que se poderia chamar temeridade se não fossem nele funções naturais, como uma boa digestão, por exemplo.
