Lord Jim - Cap. 23: Capítulo XXII Pág. 239 / 434

Eu, nesse momento, apenas o queria ver desaparecer. Stein tinha um motivo de ordem sentimental, o que era característico nele. Pensava que estava a pagar, na mesma moeda, a velha dívida que nunca esquecera. De facto, toda a sua vida se tinha interessado particularmente por aqueles que chegavam das Ilhas Britânicas. O seu defunto benfeitor era escocês - e tão escocês que chegava ao ponto de se chamar Alexander M'Neil, e Jim nascera muito para o Sul de Tweed; mas, àquela distância de seis ou sete mil milhas, a Grã Bretanha, sem sair diminuída, parece muito mais pequena mesmo aos seus próprios filhos, de maneira que tais pormenores não têm importância. Esta maneira de ver de Stein era perdoável e as suas intenções tão generosas que lhe pedi seriamente que as guardasse secretas durante certo tempo. Pensei que nenhuma consideração de ordem pessoal devia influenciar Jim; nem o risco dessa influência se devia correr. Encontrávamo-nos em face de outra espécie de realidade Ele procurava um refúgio, e esse refúgio ser-lhe-ia oferecido à custa de perigos, e era tudo.

«Fui perfeitamente franco com ele e exagerei mesmo (assim julgava nesse momento) o perigo da empresa. Enganei-me, pois o seu primeiro dia em Patusan ia sendo o último também, se a sua temeridade ou o seu desprezo por si próprio não o tivessem impedido de carregar o revólver. Recordo como, à medida que me escutava a explicação do precioso plano de retirada que preparávamos para ele, a sua expressão cansada foi gradualmente substituída por outra de surpresa, de interesse, de maravilha, de entusiasme juvenil. Era esta a oportunidade que sonhara. Não sabia como pudera merecer que eu... Não atinava com o que fizera merecer... E era Stein, Stein o grande comerciante, Stein que.





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