Lord Jim - Cap. 4: Capítulo III Pág. 26 / 434

Ele e o maquinista-chefe eram camaradas desde há um bom par de anos - ao serviço do mesmo velho chinês, jovial e astucioso, de óculos de aros de chifre e fitas de seda vermelha entrançadas nos veneráveis cabelos brancos do seu rabicho. A opinião dos frequentadores do cais, no porto em que o Patna estava matriculado, era de que aqueles dois, com respeito a ladroeiras, «tinham feito juntos com êxito tudo o que era possível nesse capítulo». Exteriormente emparelhavam mal: um com o olhar embotado, malévolo, todo em curvas de carne mole; o outro magro, todo reentrâncias, com uma cabeça comprida e ossuda como a de um velho cavalo, com as faces encovadas, as fontes reentrantes, com um brilho vítreo apático nos olhos encovados. Tinha dado à costa algures no Oriente - em Cantão, em Xangai, ou talvez em Yokohama; provavelmente não lhe interessava recordar o local exacto, nem também a causa do naufrágio. Fora, em atenção à sua pouca idade, calmamente posto fora do seu navio havia vinte anos ou mais, e essa lembrança era menos dolorosa porque o resultado podia ter sido muito pior. Depois, com a expansão da navegação a vapor naqueles mares e a falta de homens do seu ofício nos primeiros tempos, de certa maneira «levou a melhor». Estava sempre ansioso por fazer compreender aos estranhos com palavras mastigadas que era «uma pessoa de muita experiência deslocado nestas paragens».

Quando caminhava, parecia que um esqueleto se bamboleava dentro do fato; o seu andar era um mero vaguear, e era dado a vaguear assim à volta da clarabóia da casa das máquinas, a fumar sem descanso tabaco com mistelas num recipiente de cobre, por uma haste de cerejeira, de quatro pés, com a gravidade imbecil de um pensador a desenvolver um sistema de filosofia a partir do vislumbre, nebuloso, de uma verdade.





Os capítulos deste livro