Lord Jim - Cap. 31: Capítulo XXX Pág. 303 / 434

Ela escutava-o, aplaudia ao de leve, murmurava-lhe docemente a sua admiração, mas sem deixar de estar alerta um só instante. Parece que Jim se habituara a fazer dela sua confidente desde o princípio e que, por seu turno, ela lhe dava de facto uma porção de indicações úteis sobre os negócios do Patusan. Afirmou-me mais de uma vez que nunca se arrependera de seguir os seus conselhos. Ele continuava a explicar-lhe o seu plano pormenorizadamente quando ela lhe apertou o braço e desapareceu do pé dele. Então. Cornélio surgiu não se sabe donde e, ao avistar Jim, cambaleou como se tivesse sido atingido por uma bala; depois conservou-se imóvel, na sombra. Por fim, avançou prudentemente como um gato desconfiado. 'Estavam ali uns pescadores... com peixe... ', disse ele com uma voz trémula. 'Para vender peixe percebe?... ' Deviam ser então duas da manhã... hora provável para alguém apregoar peixe!

«Jim deixou, porém, passar esta mentira e não lhe deu a menor importância. Outros assuntos lhe ocupavam o pensamento, e, além disso, ele não tinha visto nem ouvido nada. Contentou-se com dizer 'Ah!' com um ar ausente; bebeu um gole do água de um jarro que estava ali e, deixando Cornélio tomado de uma emoção inexplicável, que o fez agarrar-se com os dois braços ao corrimão carcomido da varanda, como se as pernas se lhe tivessem dobrado, voltou para dentro e foi deitar-se na esteira, a cismar. Daí a pouco ouviu passos furtivos que se detiveram. Uma voz trémula murmurou através da parede: 'Está a dormir?' 'Não! Que há?', inquiriu Jim; rapidamente; houve um movimento brusco cá fora e depois tudo ficou silencioso, como se o homem se tivesse assustado, Aborrecido com tudo isto, Jim saiu do quarto impetuosamente e, com um grito abafado, Cornélio saltou para os degraus da varanda e agarrou-se ao corrimão partido.





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