Lord Jim - Cap. 5: Capítulo IV Pág. 33 / 434

Os factos que estes homens estavam tão ansiosos por conhecer tinham sido visíveis, tangíveis, abertos aos sentidos, tinham ocupado o seu lugar no tempo e no espaço, tinham exigido, para poderem existir, um barco de 14 000 toneladas e vinte e sete minutos, contados pelo relógio; formavam um todo que tinha fisionomia, gradações de expressão, um aspecto complicado que os olhos podiam recordar, e alguma coisa mais para além disso, uma coisa invisível, um espírito condutor, de perdição, que o habitava, como uma alma malévola num corpo abominável. Estava ansioso por pôr isto a claro. Não fora um incidente vulgar, tudo nele tomara uma importância extrema, e felizmente lembrava-se de tudo. Queria continuar a falar por amor da verdade, talvez também por amor de si próprio; e enquanto as suas palavras eram resolutas, o seu pensamento flutuava positivamente às voltas, à roda do círculo apertado dos factos que o assaltaram de todos os lados para o separar do resto dos seus semelhantes: encontrava-se na situação de um ser prisioneiro dentro de um recinto cercado por uma alta paliçada, que corre desesperadamente à volta, louco na noite, tentando encontrar um ponto fraco, uma fenda, um sítio possível de escalar, uma abertura por onde possa forçar passagem e fugir. Esta terrível actividade mental fazia-o hesitar de vez em quando...

«O comandante continuava a andar de um lado para o outro na ponte; parecia bastante calmo, mas por várias vezes o vi cambalear; e num certo momento, estava eu a falar-lhe, veio de encontro a mim como se fosse completamente cego. Não deu uma resposta exacta ao que eu tinha para lhe dizer. Falava entre dentes; tudo o que ouvi foi qualquer coisa como 'maldito vapor!' e 'vapor infernal!' - qualquer coisa a respeito de vapor.





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