Lord Jim - Cap. 5: Capítulo IV Pág. 35 / 434

O olhar de Jim, desviando-se nos intervalos das suas respostas, fixou-se num homem branco, apartado dos outros, com a face gasta e sombria, mas cujos olhos calmos olhavam a direito, perspicazes e interessados. Jim respondeu a outra pergunta e esteve tentado a gritar: «Para que serve tudo isto?!, para que serve tudo isto?!» Bateu ligeiramente com o pé, mordeu os lábios e relanceou os olhos por cima das cabeças. Encontrou os do homem branco. O olhar que lhe era dirigido não era o olhar fixo, fascinado, dos outros. Era um acto de volição inteligente. jim, entre duas perguntas, olvidou-se de si próprio de tal maneira que teve tempo de formular um pensamento. Este indivíduo - assim se apresentava o pensamento olha para mim como se estivesse a ver alguém ou alguma coisa por detrás do meu ombro. Cruzara-se já antes com esse homem - talvez na rua. Tinha a certeza absoluta de que nunca lhe falara. Durante dias, durante muitos dias, não falara com ninguém, mas mantivera uma conversa sem fim, silenciosa e incoerente consigo próprio, como um prisioneiro solitário na sua cela, ou como um viandante perdido no ermo. Agora neste momento estava a responder a perguntas que não interessavam, embora tivessem uma finalidade, e duvidava que voltasse alguma vez a falar durante o resto dos seus dias. O som das suas próprias declarações, conformes à verdade, confirmava a sua opinião ponderada de que falar já não lhe serviria de nada. Aquele homem, ali, parecia estar consciente dessa sua irremediável dificuldade. Jim olhou para ele, depois desviou os olhos resolutamente, como numa despedida derradeira.

E mais tarde, muitas vezes em lugares distantes do mundo, Marlow mostrava-se disposto a recordar Jim e a falar dele com todos os pormenores.





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