Lord Jim - Cap. 42: Capítulo XLI Pág. 398 / 434

Não supõe que vamos descer até ao campo aberto. Ah! Prometo-lhe que lhes daremos que fazer antes de acabarem connosco. Acusa-me de ter atacado cobardemente gente inofensiva. Que me importa a mim que sejam inofensivos quando, se não a atacar, morrerei de fome? Mas não sou um cobarde. Não o seja também. Convença-os, ou então, com mil diabos!, trataremos de reduzir a cinzas metade da sua cidade inofensiva juntamente connosco'

«Brown tinha um olhar terrível ao narrar-me isto; esse torturado esqueleto todo dobrado sobre si mesmo, com a cara nos joelhos, numa cama miserável naquela sórdida choça, soerguia a cabeça para olhar para mim com ar de malévolo triunfo.

«'Pois isto que lhe disse; sabia bem o que lhe devia dizer', continuou ele com uma voz débil a princípio, para depois se exaltar com incrível rapidez, até atingir acentos de feroz escárnio. 'Não nos vamos meter floresta adentro para andarmos a vaguear como um bando de esqueletos vivos, caindo um após outro, para as formigas darem cabo de nós antes de estarmos bem mortos. Oh!, não!... «Não merece outro destino», disse-me ele. «E que é que você merecer», gritei-lhe, «você que fugiu para aqui e que eu venho encontrar com a boca cheia de responsabilidades, de vidas inocentes, do seu maldito dever? Que sabe de mim que eu não saiba de si? Vim aqui procurar comida. Percebe? - Comida para encher a barriga. E você, que veio procurar? Que é que pediu quando cá chegou? Apenas lhe pedimos que combata connosco ou nos deixe o caminho livre para voltarmos ao lugar donde viemos... » «Estou disposto a bater-me consigo agora», disse ele, cofiando o bigodinho. «E eu deixava que me matasse e ainda lhe dizia obrigado. É-me indiferente morrer aqui ou em qualquer outro lugar. Estou farto da minha maldita sorte.





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