Lord Jim - Cap. 42: Capítulo XLI Pág. 400 / 434

As portas do outro mundo, vestido como um mendigo, Brown esbofeteara e escarrara na face deste mundo e lançara sobre ele uma infinidade de desprezo e de revolta que constituía o fundo dos seus crimes. Tinha-os vencido a todos - homens, mulheres, selvagens, comerciantes, missionários - e a Jim, esse patife com carinha de bebé. Eu não lhe invejava este triunfo in articulo mortis, esta ilusão quase póstuma de ter calcado a Terra inteira a seus pés. Enquanto ele se vangloriava no meio da sua agonia sórdida e repugnante, não pude deixar de pensar nas anedotas que se referiam à época do seu maior esplendor quando, durante cerca de um ano, se podia ver o barco do 'Sr. Brown', dias a fio, rondar ao largo de uma ilhota franjada de verde sobre o azul, com a mancha negra da missão numa praia branca, enquanto o 'Sr. Brown', em terra, se servia dos seus encantos para seduzir uma rapariga romântica que a Melanésia havia transtornado e dava ao marido esperanças de uma notável conversão. Numa dada altura, tinham ouvido o pobre homem exprimir a intenção de conduzir 'o capitão Brown ao bom caminho'... 'Arrebatar o Sr. Brown para o Paraíso', como disse uma vez um galhofeiro de olhar malicioso, 'para que os de lá de cima pudessem ver o que é um capitão de um navio mercante do Pacífico Ocidental'. Este era o homem que fugira com uma moribunda e derramara lágrimas sobre o seu cadáver. 'Comportou-se nesse caso como um rapazola', não se cansava de repetir o seu imediato, 'e que eu seja morto a pontapés por canacas enfurecidos se sei que piada tinha aquilo. Oh! senhores!, o estado dela era tão grave que não o reconheceu quando a levou para bordo. Ficou deitada no camarote dele com uns olhos terrivelmente brilhantes fitos no tecto, e depois, morreu.




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