Lord Jim - Cap. 6: Capítulo V Pág. 42 / 434

Diz que assim que se apercebeu de quem tinha na sua frente se sentiu mal - Archie é muito compassivo e desnorteia-se muito facilmente -, mas conteve-se e gritou: 'Alto! Não posso de maneira nenhuma ouvi-lo. Tem de ir ver o capitão Elliot, que é a pessoa competente. Por aqui, por aqui.' Pôs-se em pé de um salto, deu a volta a correr ao longo do balcão, empurrou, atropelou: o outro deixou-o expandir-se, espantado mas obediente a princípio, e só à porta do gabinete particular é que uma espécie de instinto o levou a hesitar e a bufar como um animal assustado. 'Olá! Que é isto? Vamos... Olhe cá!' Archie escancarou a porta sem bater e gritou: 'O comandante do Patna'. 'Entre, capitão:' Viu o velho levantar a cabeça de cima do que estava a escrever, tão repentinamente que as lunetas lhe caíram, bateu a porta e correu veloz para a secretária, onde tinha uns papéis à espera da sua assinatura: mas diz que a altercação, que rebentou lá dentro era tão espantosa que ele não conseguia o sangue-frio suficiente para se lembrar como se escrevia o seu próprio nome. Archie é o mais sensível dos mestres de navegação dos dois hemisférios. Confessa que teve a percepção de ter lançado um homem às feras. Com efeito, a algazarra era enorme. Eu ouvia-a em baixo, e tenho todas as razões para crer que se ouvia perfeitamente do outro lado da esplanada, até ao coreto. O bom do velho Elliot tem uma enorme reserva de palavreado e boa voz para gritar - e não faz cerimónia seja com quem for. Era capaz de gritar ao próprio vice-rei, Costumava dizer-me: Cheguei ao posto mais alto que podia ambicionar; a minha pensão está garantida. Tenho algum dinheiro de lado, e se não gostarem do meu conceito do dever posso perfeitamente retirar-me. Sou um velho e toda a vida disse o que pensava.




Os capítulos deste livro