Lord Jim - Cap. 46: Capítulo XLV Pág. 426 / 434

Os poderes ocultos não lhe roubariam a paz pela segunda vez. Permanecia sentado como uma figura de pedra. Tamb' Itam, deferente; aludiu aos preparativos da defesa. A mulher que ele amava entrou e falou-lhe, mas ele fez um gesto com a mão no qual ela reconheceu, aterrada, um apelo mudo ao silêncio. Saiu para a varanda e sentou-se no limiar, como se quisesse defendê-lo com o seu corpo contra os perigos do exterior.

«Que pensamentos, que lembranças, passaram pela cabeça de Jim?

Quem o poderá dizer? Tudo se acabara, e ele, que uma vez fora infiel ao que os homens dele esperavam, perdera de novo a confiança deles. Foi então - suponho - que tentou escrever... a alguém, e desistiu. A solidão cerrava-se à sua volta; as pessoas tinham-lhe entregado as suas vidas, e, contudo, como ele dissera, nunca seria possível fazê-las compreender. Os que estavam cá fora não lhe ouviam fazer o mínimo ruído. Ao fim da tarde, assomou à porta e chamou por Tamb' Itam. 'Então?', perguntou. 'Há muitas lágrimas e também muita cólera', disse o malaio. Jim levantou os olhos para ele. 'Já sabes?', murmurou. 'Sim, Tuan', disse Tamb' Itam. 'O teu criado já sabe; as portas estão fechadas. Teremos de lutar.' 'Lutar? Para quê?', perguntou. 'Pelas nossas vidas.' 'A minha vida acabou', disse ele. Tamb' Itam ouviu a jovem que estava à porta soltar um grito. 'Quem sabe?', disse Tamb' Itam. 'Com audácia e astúcia talvez ainda possamos escapar. No coração dos homens também há muito medo.' Saiu a pensar vagamente em barcos e no alto mar, deixando Jim e a jovem sozinhos.

«Não tenho ânimo para registar o que ela me deixou entrever da hora que passou a lutar com ele pela posse da sua felicidade. É impossível dizer se Jim tinha alguma esperança, no que confiava, ou o que pensava.





Os capítulos deste livro