Lord Jim - Cap. 6: Capítulo V Pág. 45 / 434

Vocês, Ingleses danados, podem fazer o que quiserem; eu sei onde há lugar à farta para um homem como eu; tenho boas relações em Ápia, em Honolulu, em... ' Fez uma pausa para reflectir, enquanto eu sem esforço, podia imaginar a sós comigo o género de gente com quem ele tinha boas relações naquelas paragens. Não farei segredo do facto de que também eu estive em boas relações com não pouca gente daquela espécie. Há momentos em que um homem tem de proceder como se a vida fosse agradável com qualquer companhia. Conheci momentos desses e, o que é ainda mais, não vou agora fazer carinhas e caretas por causa de ter tido necessidade desses conhecimentos, porque uma grande parte dessas más companhias, más por - como direi? - falta de moral, isso, de uma atitude moral, ou por qualquer outra razão profunda, eram duas vezes mais instrutivas e vinte vezes mais divertidas do que o comerciante ladrão, vulgar e respeitável que vocês convidam para a vossa mesa sem nenhuma necessidade real- por hábito, por cobardia, por bondade, por mil e uma razões ocultas e impróprias.

«Vocês, Ingleses, são todos uns patifes', continuou o meu patriótico australiano de Flensborg ou de Stettin, não me recordo na verdade que honesto portozinho das margens do Báltico se cobriu de vergonha por ter servido de ninho a este pássaro raro. 'Que é que vocês são, para se porem a gritar? Hem? Diga lá! Vocês não são melhores do que os outros, nem mesmo aquele velho malandro que fez comigo um espalhafato de todos os diabos.' A sua grossa carcaça tremia sobre as pernas, que eram como dois pilares; tremia dos pés à cabeça. 'Isto é o que vocês, Ingleses, fazem sempre - fazem sempre um barulho dos diabos por uma coisa de nada, porque não nasci no vosso maldito país. Tirem-me a carta-patente.





Os capítulos deste livro