Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 62 / 434

Ele não me desprezava por algum motivo que eu pudesse remediar, por aquilo que eu era - sabem? Eu era uma quantidade desprezível, unicamente por não ser o homem feliz entre todos, Montague Brierly, comandante do Ossa, nem o possuidor de um cronómetro de ouro e de um binóculo com engastes de prata que testemunhassem a excelência da minha qualidade de marinheiro e a minha indomável coragem; não estava possuído pelo sentimento agudo dos meus méritos e das minhas recompensas, e também não tinha nem o amor nem a adoração de um cão de caça preto, o mais maravilhoso cão da sua raça - porque nunca um tal homem foi amado assim por um tal cão. Sem dúvida, ser constrangido aceitar isto era deveras irritante; mas depois de ter ponderado que participava destas desvantagens na companhia de doze mil milhões de outros seres mais ou menos humanos achei que podia suportar o meu quinhão da sua piedade benigna e desdenhosa por amor de qualquer coisa de indefinível e de atraente que existia no homem. Nunca defini para mim próprio a natureza desta atracção, mas havia momentos em que o invejava. As ferroadas da vida não podiam penetrar na sua alma satisfeita mais fundo do 1ue o arranhão de um alfinete na superfície lisa de uma rocha. Isto era invejável, Ao olhar para ele, colocado ao lado do juiz apagado e pálido que presidia ao inquérito, a sua auto-satisfação oferecia-me a mim e ao mundo uma aparência rija, de granito. Suicidou-se muito pouco tempo depois.

«Não era de admirar que o caso de Jim o aborrecesse e enquanto eu avaliava, com um sentimento muito parecido com o medo, a vastidão do seu desprezo pelo jovem que estava a ser inquirido, ele provavelmente investigava em silêncio o seu próprio caso. A sentença deve ter sido: culpado sem atenuantes, e levou com ele naquele salto para o mar o segredo das provas.





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