Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 76 / 434

«'Que eu saiba, não abri a boca de maneira que me pudesse ouvir', afirmei com inteira verdade. Estava já a ficar um pouco irritado com o absurdo deste encontro. Ocorre-me agora que nunca na minha vida estive tão perto de uma cena de pancadaria -literalmente; de pancadaria, com os punhos. Creio, no entanto, que tivesse um pressentimento confuso de que isto ia acontecer. Não que ele me estivesse a ameaçar efectivamente.

Pelo contrário, mostrava-se estranhamente passivo, mas estava a ensombrecer-se, e, se bem que não fosse excepcionalmente robusto, o aspecto geral era o de alguém capaz de deitar abaixo uma muralha. O sintoma mais tranquilizador que notei foi uma espécie de hesitação lenta e pesada, que tomei por uma homenagem à sinceridade evidente da minha conduta e do meu tom. Encarámo-nos. Na sala do tribunal prosseguia o julgamento do caso de assalto. Apanhei as palavras: 'Bem - búfalo, - pau - no meio do meu grande medo... '

«'Que queria dizer com aquele olhar fixo toda a manhã?', disse Jim finalmente. Olhou para cima e voltou a baixar os olhos. 'Estava à espera de nos ver todos sentados com os olhos pregados no chão para poupar a sua susceptibilidade?', retorqui ríspido. Não ia sujeitar-me humildemente aos seus despropósitos. Voltou a levantar os olhos e desta vez fixou-me directamente de frente. 'Não. Tem razão', proferiu ele com o ar de quem está a deliberar consigo próprio acerca da verdade desta declaração; 'tem razão. Mas' e aqui começou a falar mais precipitadamente - 'não deixarei que ninguém me insulte fora do tribunal. Estava um tipo consigo. O senhor estava a falar com ele 0 oh, sim -, eu sei; tudo isso está muito bem. Estava a falar com ele, mas queria que eu ouvisse... '

«Assegurei-lhe que se enganava redondamente e que não compreendia como tinha podido chegar a essa conclusão.





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