Lord Jim - Cap. 2: Capítulo I Pág. 9 / 434

«Baixa!» Viu o escaler equipado descer rapidamente para baixo da amurada e correu a vê-lo. Ouviu um choque na água. «Larga; solta a talha!» Debruçou-se. O rio fervilhava riscado de escuma a todo o comprimento. Distinguia-se o escaler na escuridão crescente, joguete da maré e do vento, que por um momento o retiveram, a debater-se em frente do navio. Uma voz estridente chegou-lhe aos ouvidos enfraquecida pela distância: «Remem juntos, rapazes, todos à uma, se querem salvar alguém. Todos à uma.» E subitamente, com a proa erguida ao alto, o escale r saltou por sobre uma onda, com os remos levantados, e venceu a força do vento e da corrente.

Jim sentiu uma mão que lhe apertava o braço com firmeza. «Agora é tarde, rapaz.» O capitão do navio segurava firmemente, para o deter, este jovem que parecia prestes a atirar-se ao mar, e Jim encarou-o com o tormento da derrota consciente no olhar. O capitão sorriu com um ar simpático. «Terás de aprender para a próxima vez. Isto ensinar-te-á a ser expedito.»

Um grito de regozijo, agudo, estrídulo, acolheu o escaler. Estava de volta a dançar sobre as águas, meio afundado e transportando dois homens exaustos, encharcados, estendidos no fundo. O tumulto e a ameaça do vento e do mar pareciam agora bem desprezíveis a Jim, aumentando nele o pesar de ter sentido medo perante aquela ineficiente ameaça. Agora sabia o que ela valia. Pareceu-lhe que a tempestade não lhe dava abalo. Podia enfrentar perigos maiores. Fá-lo-ia; melhor do que ninguém. O medo desaparecera totalmente. No entanto, afastou-se, sorumbático, essa noite, para longe dos outros, quando o proeiro do escalei - um rapaz com uma cara de menina e grandes olhos cinzentos - se tornou no herói do convés inferior. Perguntadores impacientes atropelavam-se à sua volta.





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