Os outros estavam sentados nos bancos de trás. Apenas entrevia os seus vultos. Chegavam vozes até mim de murmúrios e de resmungos. Tudo isto era muito difícil de suportar. Estava também com frio. E não podia fazer nada. Pensava que se me mexesse seria obrigado a saltar pela borda fora e...'
«Tacteava sobre a mesa com a mão furtivamente, tocou num cálice de licor e retirou-a repentinamente, como se tivesse contactado com carvão ao rubro. Empurrei ligeiramente a garrafa para o lado dele. 'Quer beber um pouco mais?', perguntei. Olhou-me irritado. 'Não acha que posso dizer-lhe o que tenho para lhe dizer sem um estímulo exterior?', ripostou. O grupo de globe-trotters fora-se deitar. Estávamos sozinhos, se exceptuarmos uma vaga forma branca de pé direita na sombra, que quando olhávamos para ela avançava servilmente dobrada, hesitava e afastava-se, sempre em silêncio. Começava a fazer-se tarde, mas eu não dava pressa ao meu convidado.
«No meio da sua aflição ouviu os companheiros começarem a injuriar alguém. 'Que é que o impedia de saltar, idiota?', disse uma voz num tom de repreensão. O maquinista-chefe deixou o banco de trás; ouvia-se o barulho dos seus tropeções a avançar para a proa do salva-vidas, como que cheio de intenções hostis contra 'o maior idiota que vi nos dias da minha vida'. O capitão gritava com voz estridente epítetos ofensivos donde estava sentado a segurar o remo sobre a popa. Então, perante este alvoroço, levantou a cabeça e ouviu dizer: 'George', ao mesmo tempo que no escuro uma mão lhe batia no peito. 'Que desculpa tem para dar, palerma?', perguntou alguém com uma espécie de cólera virtuosa. 'Estavam a meter-se comigo', disse. 'Estavam a insultar-me... a insultar-me... como se eu fosse o George chamavam-me George!'
«Interrompeu-se para me olhar, fez um esforço para sorrir, desviou os olhos e continuou.