'O segundo-maquinista, o pequenino, mete a cabeça mesmo debaixo do meu nariz e diz: «O quê, é o maldito do imediato!» O quê?», exclama o capitão num urro, da outra ponta do salva-vidas. «Não!», guincha o maquinista chefe. E também se inclinou para olhar a minha cara.'
«O vento deixou subitamente de açoitar o salva-vidas. A chuva recomeçou a cair, e o ligeiro som misterioso, suave, ininterrupto, que vem do mar para receber um aguaceiro, fez-se ouvir de todos os lados da noite. 'Ficaram espantados que às primeiras perderam a fala, contou ele; 'e eu que tinha para lhes dizer?' Hesitou um momento e continuou com esforço. 'Chamaram-me nomes horríveis.' A sua voz tornara-se um sussurro, mas de vez em quando erguia-se subitamente, endurecida pelo furor do desprezo, como - estivesse a falar em abominações secretas. 'Não importa o que me chamaram', disse com uma expressão fechada. 'Eu sentia o ódio nas suas vozes. -ma boa coisa. Não podiam perdoar-me a minha presença no salva-vidas. Essa ideia punha-os furiosos. Enlouquecia-os... ' Deu uma breve risada... as isso impedia-me de... Olhe! Eu estava sentado na borda!... ' Empoleirou-se com muito aprumo na beira da mesa e cruzou os braços... Assim - vê? Um pequeno movimento para trás, e lá ia eu para onde tinham ido os outros. Um movimento de nada - o mais insignificante... o mais insignificante! Carregou o sobrolho e, batendo na testa com a ponta do dedo médio, disse com um ar concentrado: 'E essa ideia não me saía daqui. não me saía... essa ideia. E a chuva - fria, compacta, fria como neve derretida, ainda mais fria - a cair no meu fato leve, de algodão. Nunca mais terei tanto frio na minha vida, tenho a certeza. E o céu estava negro também - completamente negro. Nem uma estrela, nem uma luz.
