'Permaneci a bordo do... do... a minha memória começa a fraquejar (
s'en va)...
Ah! Patt-nà. C'est bien ça. Patt-nà. Merci. É curioso como podemos esquecer. Permaneci a bordo desse barco trinta horas... '
«'A sério?', exclamei. Ainda a olhar para as mãos, franziu um pouco os lábios, mas desta vez não assobiou. 'Julgou-se oportuno', disse ele, levantando calmamente as sobrancelhas, 'que um dos oficiais lá ficasse para vigiar (pour ouvrir l'oeil)' - suspirou... lentamente - 'e para comunicar por sinais com o navio rebocador - está a ver? - etc., etc. Era de resto também essa a minha opinião. Preparámos os nossos salva-vidas, e eu tomei igualmente medidas naquele barco... Enfin!... Fez-se tudo que se podia fazer! Era uma situação delicada. Trinta horas. Prepararam-me de comer, mas quanto a vinho - bem o podia procurar -, nem uma gota.' De uma maneira absolutamente extraordinária, sem nenhuma mudança visível na sua inércia ou na expressão plácida da face, conseguiu transmitir-me a impressão de um aborrecimento profundo. 'E eu, sabe?, se não tenho o meu copo de vinho às refeições, estou perdido.'
«Tive medo de que prolongasse muito as queixas sobre este assunto, porque, se bem que não tivesse mexido um dedo nem contraído um músculo, não se podia deixar de sentir que essa recordação o irritava imenso. Mas apeteceu esquecê-lo completamente. Entregaram o barco às 'autoridades do porto', como ele disse, e ficara impressionado com a calma com que fora recebido! 'Dir-se-ia que estavam habituados a receber todos os dias um aqueles achados (drôle de trouvaille). Vocês são extraordinários - são, rim senhor', comentou, apoiado de costas à parede e parecendo tão incapaz de dar mostras de emoção como um saco de farinha.