Estes dividiam-se em duas categorias. Uns, poucos e raramente visíveis, levavam uma vida misteriosa, conservavam uma energia indefectível; tinham a têmpera de um pirata e um olhar de sonhadores. Pareciam viver numa louca confusão de planos, esperanças, perigos, especulações, iniciativas, empreendimentos, em regiões marítimas remotas, que a civilização ainda não alcançou; e a sua própria morte era o único acontecimento daquela fantasiosa existência, que parecia oferecer uma certeza razoável de chegar a uma conclusão. A maioria eram homens, como ele, atirados para ali por qualquer acidente e lá tinham ficado como oficiais a bordo de navios do país. Sentiam agora horror pelo serviço nas linhas da metrópole, por causa da maior dureza das condições, da noção mais severa do dever e dos perigos dos mares tempestuosos. Tinham-se harmonizado com a paz perpétua do céu e do mar orientais. Gostavam de viagens curtas, cadeiras de descanso confortáveis, tripulações numerosas de nativos e o privilégio de brancos. Estremeciam à ideia de um trabalho duro e viviam incertas vidas fáceis, sempre à beira da demissão, sempre à beira de um contrato, ao serviço de chineses, árabes, mestiços - serviriam o próprio Diabo se ele lhes desse essa oportunidade. Falavam incessantemente de golpes de sorte: de como Fulano apanhara o comando de um barco na costa da China - trabalhinho para ser feito com uma perna às costas; de como Sicrano tinha uma situação confortável algures no Japão, e de como Beltrano fazia carreira na marinha siamesa. E em tudo o que diziam - nas suas acções, nas suas expressões, nas suas pessoas - reaparecia o ponto fraco, a extensão da decadência, a determinação de passar através da existência ociosos e longe do perigo.
Para Jim, esta multidão mexeriqueira, do ponto de vista de um marinheiro, parecia-lhe ao princípio mais imaterial do que muitas sombras.