Havia apenas mais dois doentes na enfermaria dos brancos: o comissário de bordo de uma canhoneira, que partira uma perna ao cair por uma escotilha, e uma espécie de empreiteiro dos caminhos-de-ferro de uma província vizinha, atormentado por uma misteriosa doença tropical, que tinha o médico na conta de um asno e se abandonava a orgias secretas de remédios, que o seu fiel criado tâmil introduzia clandestinamente no hospital com infatigável dedicação. Contavam um ao outro a história das suas vidas, jogavam um pouco às cartas, ou passavam o dia ociosos, estiraçados em cadeiras de descanso, calados, a bocejar. O hospital estava situado no alto de uma colina, e uma brisa suave que entrava pelas janelas, sempre escancaradas, trazia para o quarto nu a doçura do céu, a languidez da terra, o marulhar fascinante dos mares orientais. Havia nela perfumes, sugestões de repouso e de uma tranquilidade infinita; a dádiva de um eterno sonhar. Jim contemplava todos os dias, por cima das sebes dos jardins, para além dos telhados da cidade e das palmeiras que cresciam na praia, aquela enseada que era um porto de passagem para o Oriente, uma enseada salpicada de ilha tas engrinaldadas de flores, iluminada por um sol festivo, com barcos como brinquedos, uma actividade resplandecente semelhante às pompas de um dia de festa, com a serenidade eterna do céu oriental por cima e a risonha paz dos mares orientais senhora do espaço até ao horizonte.
Logo que pôde andar sem o apoio de uma bengala, desceu à cidade, à procura de uma oportunidade para regressar a casa. Nenhuma oportunidade se ofereceu nesse momento, e enquanto esperava começou a conviver, no porto, como era natural, com homens do seu ofício.