A própria lei o abandonava. Enterrá-lo teria sido um acto de bondade fácil, porque estaria absolutamente de acordo com a sabedoria da vida, que consiste em esconder da vista tudo o que lembre a nossa loucura, a nossa fraqueza a nossa condição de mortais; tudo o que prejudique a nossa eficiência - a lembrança das nossas derrotas, as insinuações dos nossos medos eternos, os corpos dos nossos mortos. Talvez tomasse isto tudo demasiado a sério e se assim fosse a proposta de Chester... Chegado a este ponto, peguei numa nova folha de papel e comecei a escrever resolutamente. Apenas eu me interpunha entre este rapaz e o oceano negro. Experimentei um sentimento de responsabilidade. Saltaria este jovem imóvel e atribulado para a escuridão e agarrar-se-ia à tábua de salvação? Compreendi a dificuldade que pode haver em emitir um som. Há um poder fatídico em certas palavras. E porque não, que diabo?, perguntava a mim próprio com insistência enquanto continuava a escrever. De repente, vi as duas figuras, de Chester e do sócio, a andar e a gesticular muito nítidas e inteiras na página branca, exactamente debaixo da minha caneta, como que reproduzidas por um instrumento óptico. Observei-os um momento. Não! Eram demasiado estranhos e fantasmagóricos para poderem fazer parte do destino fosse de quem fosse. E uma palavra tem um longo alcance, muito longo - espalha a destruição através do tempo como uma bala voa no espaço. Não disse nada; e ele, lá fora, com as costas voltadas para a luz, como que amarrado e amordaçado por todos os inimigos invisíveis do homem, não fazia nem um gesto nem um ruído.»