Lord Jim - Cap. 17: Capítulo XVI Pág. 187 / 434

Um suspiro enorme atravessou o ar; mãos furiosas pareciam rasgar os arbustos, agitar, sacudir os cimos das árvores, em baixo, bater portas, quebrar vidros a toda a largura da fachada do edifício. Ele tornou a entrar, fechou a porta atrás de si e encontrou-me debruçando sobre a mesa: fiquei de repente cheio de ansiedade, com receio do que ele iria dizer, quase com terror. 'Dá-me um cigarro?', perguntou. Empurrei a caixa sem levantar a cabeça. 'Tenho vontade de... de fumar', murmurou. Senti-me aliviado. 'Um momento, por favor', disse eu baixinho, amavelmente. Deu uns passos, 'Acabou', ouvi-o dizer. Um último ribombar veio do lado do oceano como um apelo. A monção chega cedo este ano', disse num tom de conversa, algures nas minhas costas. Isto deu-me coragem para me voltar, o que fiz logo que acabei de pôr o endereço no último sobrescrito. Estava a fumar com sofreguidão no meio do quarto e, embora me tivesse ouvido voltar, ficou de costas para mim, um certo tempo.

«'Vá lá, suportei bastante bem a coisa', disse ele rodando de repente.

Qualquer coisa acabou - pouca coisa. Pergunto o que virá a seguir.' O seu rosto não exprimia qualquer emoção, apenas parecia um pouco violáceo e inchado, como se estivesse a reter a respiração. Sorriu com relutância e continuou enquanto eu o olhava em silêncio… 'Muito obrigado... o seu quarto... muito confortável... para um tipo… deprimido. '... A chuva caía no jardim com um ruído monótono; um cano (com certeza furado) parecia imitar diante da janela a paródia de uma dor choramingada com soluços cómicos e lamentações murmuradas aos arrancos, interrompida por espasmos convulsivos de silêncio... 'Um refúgio', sussurrou, e calou-se.

«Um relâmpago longínquo atravessou a escuridão em frente das janelas e desapareceu sem ruído.





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