Lord Jim - Cap. 20: Capitulo XIX Pág. 211 / 434

Diz-se às vezes que o homem tem a sua vida nas mãos. Uma tal expressão não se adaptava ao seu caso; durante os primeiros tempos que passara no Oriente jogara com ela ao pontapé. Tudo isto pertencia ao passado, mas eu sabia a história da sua vida e a origem da sua fortuna. Era também um naturalista distinto e a entomológica a sua paixão. A colecção de Buprestidoe e de Longicorns, escaravelhos que eram pequenos monstros em miniatura, que mesmo mortos e imóveis tinham ar de maldade, e o seu museu de borboletas magnificamente expostas de asas estendidas debaixo do vidro das vitrinas, eram famosos no mundo inteiro. O nome deste mercador, deste aventureiro, conselheiro durante um certo tempo de um sultão malaio (a quem chamava sempre 'o meu pobre Mohammed Bonso'), tornara-se, graças a uns quilos de insectos mortos, muito conhecido de sábios europeus que certamente nunca teriam tido curiosidade de saber nada da sua vida nem do seu carácter. Mas eu, que o conhecia, considerava-o a pessoa iminentemente adequada para receber as minhas confidências sobre as dificuldades de Jim e sobre as minhas próprias.»





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