Lord Jim - Cap. 21: Capítulo XX Pág. 220 / 434

«Ouviu-me até ao fim, sentado com as pernas cruzadas. De vez em quando, a cabeça desaparecia sob uma explosão de fumo e um resmungo simpático saía de detrás da nuvem. Quando acabei, descruzou as pernas, pôs cachimbo em cima da mesa, inclinou-se para mim com os braços apoiados na cadeira e as pontas dos dedos juntas.

«'Compreendo perfeitamente. Esse rapaz é um romântico.' «Diagnosticara rapidamente o caso, e fiquei espantado por ser tão simples; a nossa conferência parecia uma consulta médica - Stein com ar de um sábio sentado numa cadeira de braços à sua secretária, eu inquieto em face dele, mas ligeiramente de lado, de tal maneira que parecia natural perguntar: 'Que é preciso fazer?'

«Levantou o dedo indicador.

«'Só há um remédio! Só uma coisa nos pode curar de nós próprios!' Bateu com o dedo na mesa com um ruído seco. O caso, de que já me mostrara simplicidade, tornava-se, se era possível, mais simples ainda... e desesperado. Houve um momento de silêncio. 'Sim', disse eu, 'propriamente falando, não se trata agora de curar ninguém, mas de lhe permitir viver.'

«Aprovou com a cabeça, um pouco triste. ‘Ja! Ja! De maneira geral, para como o vosso poeta: That is the question…’Abanou a cabeça e continuou: ‘Ser... Ach! Ser!’

«Levantou-se com as pontas dos dedos sobre a mesa.

«'Queremos ser de tantas maneiras diferentes', recomeçou. 'Esta magnífica borboleta encontrou um montinho de lama e pousou-lhe em cima; mas o homem nunca ficará quieto no seu montinho de lama. Quer ser isto e aquilo... ' Levantou a mão e baixou-a.... 'Quer ser um santo e um demónio, e sempre que fecha os olhos vê-se perfeito, perfeito como nunca poderá ser... Em sonho... '

«Baixou a tampa da vitrina, o fecho automático funcionou com um ruído seco, pegou-lhe com as duas mãos e foi pô-la religiosamente no seu lugar.





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