Capítulo 22: Capítulo XXI
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Afligia-me não saber que caminho ia ele tomar. Teria tido um grande desgosto se, por exemplo, ele começasse a beber. O mundo é tão pequeno que temia ser um dia abordado por um vagabundo de olhar turvo, face tumefacta, sujo, com os sapatos rotos, esfarrapado, que, em nome de um antigo conhecimento, me pedisse emprestados cinco dólares. Conhecem com certeza o comportamento horrível e descarado desses espantalhos vindo para vós do fundo de um passado decente, que falam com voz rouca e negligente, olham com um olhar impudente e fugidio. Esses encontros são mais dolorosos para um homem que acredite na solidariedade das existências humanas do que para um sacerdote a agonia de um pecador impenitente. Para lhes dizer a verdade, era este único perigo que eu temia para Jim e para mim, além de desconfiar da minha falta de imaginação, pois o desfecho podia ainda ser pior e eu não era capaz de o prever. Não me esquecia de que ele era um imaginativo e de os imaginativos são capazes de ir longe em todas as direcções, como se tivessem recebido ao nascer um cabo maior do que os dos seus vizinhos no difícil ancoradouro da vida. E vão realmente mais longe. Às vezes começam a beber. Estava talvez a diminuí-lo com as minhas desconfianças. Como sabê-lo? O próprio Stein apenas podia dizer que ele era um rapaz romântico. Eu sabia unicamente que era um dos nossos. E para que havia de ser romântico? Estou a descrever-lhes tão pormenorizadamente os meus sentimentos instintivos e as minhas reflexões confusas porque me resta já muito pouco a dizer dele. Ele existia para mim, e no fim de contas só existe para os senhores através de mim. Trouxe-o pela mão para vo-lo mostrar. Seriam injustas as minhas apreensões? Não sei dizê-lo, ainda hoje o não sei dizer.
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