Capítulo 26: Capítulo XXV
Página 263
O solo firme da margem encontrava-se mais ou menos a seis pés dele. 'Pensei que ia morrer, de qualquer maneira', disse-me ele. Estendia os braços, firmava-se desesperadamente com as mãos, e só conseguia juntar uma camada de lodo horrivelmente fria e viscosa contra o peito, até ao queixo. Parecia-lhe que se estava a enterrar vivo e pôs-se então a bater às cegas com os punhos e a espalhar a lama que lhe caía na cabeça, na cara, nos olhos, dentro da boca. Disse-me que se lembrou de repente do pátio, como um lugar onde fora muito feliz anos atrás. Desejava ardentemente - disse-me ele - estar lá outra vez a arranjar o relógio. Consertar o relógio, eis a sua ideia... Fazia esforços tremendos, espasmódicos, extremos, esforços que pareciam fazer estoirar os olhos nas órbitas e torná-lo cego, e que culminaram num supremo e poderoso esforço às cegas para fender a terra, para libertar os membros - e deu por si a arrastar-se para fora do banco de lama. Estava deitado ao comprido no chão firme e viu a luz, o céu. Então, como um pensamento feliz, a ideia de que ia adormecer, invadiu-o. Garantia que de facto dormira talvez um minuto, talvez vinte segundos, ou apenas um segundo, mas lembrava-se nitidamente do sobressalto convulsivo e violento do despertar. Conservou-se imóvel uns instantes e depois levantou-se, enlameado da cabeça aos pés, e ficou de pé a pensar que era o único da sua espécie, sozinho, a centenas de milhas dos seus semelhantes, sem esperança, sem simpatia, sem a piedade de ninguém, como um animal acossado. As primeiras casas estavam a menos de vinte jardas; foi o grito desesperado de uma mulher aterrada que tentava fugir com uma criança que voltou a despertá-lo. Lançou-se a direito, descalço, coberto de uma carapaça de lama, sem nenhuma semelhança com um ser humano.
|
|
 |
Páginas: 434
|
|
|
|
|
|
Os capítulos deste livro:
|
|
|