«Parecia nutrir uma grande ternura pela velha mulher de Doramin. Por seu turno, ela tomara-lhe uma afeição maternal. Tinha um rosto redondo e doce, cor de acaju, todo cheio de rugas finas, lábios grossos de um vermelho vivo (mascava betel com frequência) e olhos salientes, piscas e benévolos. Estava sempre em movimento, censurava amiudadamente e dava ordens sem cessar a um grupo de raparigas, de rosto castanho-claro e grandes olhos sérios - filhas, criadas e escravas. Já sabem que estas grandes casas é geralmente impossível distingui-las. Ela era muito poupada, e mesmo o seu manto, preso no peito por um alfinete de pedrarias, estava um pouco amarrotado e parecia feito de tecido barato. Os pés, escuros e nus, estavam metidos em sandálias de palha amarela de fabrico chinês. Eu próprio a vi cuidar das suas ocupações com os longos cabelos cinzentos, muito grossos, caídos sobre os ombros. Pronunciava frases cheias de bom senso, era nobre de nascimento e mostrava-se excêntrica e arbitrária. À tarde, sentada em frente do marido numa grande cadeira de braços, olhava longamente através de uma larga abertura na parede o vasto panorama da cidade e do rio.
«Ela metia invariavelmente as pernas debaixo do assento, mas o velho Doramin, não: ficava sentado firme e imponente como um montanha na planície. Ele pertencia apenas à nakhoda, ou classe dos comerciantes, mas o respeito que lhe tributavam e a dignidade do seu porte eram notáveis. Era o chefe do segundo poder do Patusan. Os emigrantes das Celebres (cerca de sessenta famílias que, com criados, familiares, etc., podiam fornecer uns duzentos homens 'portadores de cris') tinham-no eleito chefe há alguns anos.