Lord Jim - Cap. 29: Capítulo XXVIII Pág. 285 / 434

Não tinha ele nem lar, nem parentes? Nem uma velha mãe que sempre recordasse o seu rosto?...

«Eu não estava preparado para isto. Só me foi possível balbuciar umas palavras e abanar a cabeça vagamente. Mais tarde percebi que fiz uma fraca figura ao tentar sair desta encrenca. Mas, a partir deste momento, o velho nakhoda tornou-se taciturno. Não estava satisfeito, e é evidente que eu lhe fornecera matéria para reflexão. Embora pareça estranho, na noite daquele mesmo dia (o último que passei em Patusan) fui posto mais uma vez em face do mesmo problema, o porquê do destino de Jim, para o qual não se encontrava resposta. E isto leva-me à história do seu amor.

«Suponho que julgam tratar-se de uma história fácil de imaginar. Temos ouvido contar tantas histórias semelhantes, e a maior parte de nós não acredita que sejam histórias de amor. Consideramos a maioria delas como histórias de encontros fortuitos: episódios de paixão, quando muito, ou talvez apenas de juventude; tentações condenadas ao esquecimento definitivo, mesmo que tenham conhecido a realidade da ternura e da saudade. Esse ponto de vista é válido na maior parte dos casos e talvez também neste... Contudo, não tenho a certeza. Contar esta história não é tão fácil como pode parecer - não é daquelas que se meçam pela bitola habitual. Aparentemente é uma narrativa muito parecida com as outras: mas eu vejo ao longe a figura melancólica de uma mulher, uma sombra vítima de uma cruel sabedoria, com um ar de meditação desesperada e de lábios selados, enterrada numa campa solitária. O túmulo, que encontrei por acaso durante um passeio matinal, era um montículo informe de terra castanha, decorada na base com uma cercadura feita de corais e rodeado por uma paliçada de arbustos novos cortados ao comprido, que ainda conservavam a casca.





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