Capítulo 29: Capítulo XXVIII
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Poder-se-ia pensar que, designado para governar a Terra, procura vingar-se dos seres que estão mais próximos de se elevar acima dos entraves da prudência humana; pois só as mulheres são capazes de pôr às vezes no seu amor um elemento suficientemente sensível para nos meter medo - uma nota de ternura extraterrena. Pergunto a mim próprio com espanto como é que o mundo se apresenta aos olhos delas, se tem a forma e a substância que nós conhecemos, o mesmo ar que nós respiramos! Imagino por vezes que para elas deve ser uma região de excessiva sublimidade, fremente com as emoções das suas almas aventurosas, iluminada pela glória de todos os riscos e renúncias possíveis. Contudo, suspeito que há muito poucas mulheres no mundo, embora conheça, evidentemente, a existência de uma multidão de seres humanos e a igualdade dos sexos do ponto de vista numérico. Mas tenho a certeza de que a mãe devia ter sido tão mulher como a filha parecia ser. Não posso deixar de imaginá-las de mim para mim: primeiro à jovem e a criança, depois a mulher adulta e a rapariga, a terrível monotonia e a celeridade da passagem do tempo, a barreira da floresta, a solidão e o tumulto à volta destas duas vidas solitárias, e todas as palavras que trocavam entre si tinham de estar imbuídas de um sentido amargo e deviam ter sido confidências, não muitas, suponho. Confidências dos sentimentos mais íntimos: pesares, receios, apreensões, sem dúvida; apreensões que a filha não compreendeu inteiramente senão depois da morte da mãe e da chegada de Jim. Tenho a certeza de que só então ela compreendeu muita coisa, não tudo, sobretudo os receios. Jim deu-lhe um nome que quer dizer precioso, no sentido de pedra preciosa- chamava-lhe Jóia. Bonito, não acham? Mas ele era dotado para tudo.
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