Capítulo 29: Capítulo XXVIII
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Estava à altura da sua sorte, do mesmo modo que, em suma, se tinha mostrado à altura do seu infortúnio. Chamava-lhe portanto Jóia e pronunciava este nome como se dissesse por exemplo 'Joana' - percebem? -, com uma pacífica e familiar entoação conjugal. Ouvi o nome pela primeira vez dez minutos depois de ter posto o pé no pátio da sua casa, quando Jim, depois de me ter quase arrancado o braço, saltou os degraus e se pôs a abanar a porta com uma vivacidade infantil e jovial, sob as goteiras do telhado. 'Jóia! Ó Jóia! Depressa, chegou um amigo meu... ', e, olhando de repente para mim da penumbra da varanda, murmurou com fervor: 'Sabe, não se ponha a pensar que... não há nada de estranho neste nome... não posso dizer-lhe quanto lhe devo a ela... compreende, é exactamente como se... ' As suas palavras precipitadas e nervosas foram interrompidas por uma exclamação abafada; vi avançar de dentro de casa uma figura branca com um rosto infantil mas enérgico, de feições delicadas, e da sombra interior surgir um olhar profundo e atento, como o olhar de um pássaro que sai do recôndito de um ninho. Fiquei surpreendido com o nome, é claro; mas só mais tarde é que o relacionei com uma história espantosa que me chegara aos ouvidos durante a viagem, num pequeno porto da costa a cerca de duzentas e trinta milhas ao sul do rio Patusan. A escuna de Stein, na qual viajava, fizera escala nesse lugar para embarcar mercadorias, e, ao ir a terra, descobri, com grande surpresa, que aquela localidade miserável se orgulhava de possuir um sub-residente auxiliar de terceira classe, um tipo corpulento, gordo, alambazado, de sangue misto, com uns lábios revirados e os olhos piscos. Encontrei-o estirado numa cadeira de palhinha, odiosamente desbragado, com uma enorme folha verde no alto da cabeça fumegante e outra na mão, que ele abanava languidamente como um leque.
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