Stein não esperava que ele me sustentasse de graça. Na verdade, ele com quase nada me sustentava. Atribuía esta falta de mantimentos ao estado incerto do país, esboçava o gesto de arrancar os cabelos, pedia-me perdão vinte vezes por dia, e eu acabava por lhe suplicar que se não afligisse. Dava-me náuseas.
Metade do telhado da casa ruíra e a habitação inteira tinha um ar leproso, com tufos de ervas secas que passavam pelos buracos e bocados do esteiras soltas que pendiam das paredes. Fez o possível por provar que o Sr. Stein lhe devia o dinheiro dos três últimos anos de negócios, mas os livros de contas estavam todos rotos e alguns deles faltavam. Tentou dar-me a entender que a culpa era da defunta mulher. Miserável canalha! Por fim, fui forçado a proibi-lo de voltar a falar na sua defunta mulher, pois isso fazia chorar Jóia. Não consegui descobrir as mercadorias; no armazém só havia ratazanas, que viviam à larga no meio de uma desordem de papel de embrulho e de sacas velhas. Asseguravam-me de todos os lados que ele tinha enterrado uma porção de dinheiro num sítio qualquer, mas é claro que não consegui tirar nada dele. Naquela casa desgraçada levei a mais miserável das existências. Tentei cumprir os meus deveres para com Stein, mas tinha outras coisas em que pensar. Quando me refugiei em casa do Doramin, o velho Tunku Allang assustou-se e devolveu-me toda a minha bagagem. Fê-lo de uma maneira indirecta e cheia de mistérios, através de um chinês que tem aqui uma pequena loja; mas, logo que deixei os Bugis e fui viver com Camélia, começou-se a dizer abertamente que o rajá decidira mandar-me matar, o que estava para breve. Agradável perspectiva, não é verdade? Nada o podia impedir de o fazer se estivesse realmente decidido.