O que finalmente o fez calar - disse ele - foi o silêncio, o profundo silêncio de morte daquela figura indistinta à distância, que parecia ter sucumbido, dobrada sobre o corrimão numa imobilidade sinistra. Voltou a si e calou-se de repente grandemente admirado consigo próprio. Olhou-o por instantes. Nem um movimento, nem um ruído. 'Exactamente como se o tipo tivesse morrido enquanto eu fazia todo aquele barulho', disse ele. Estava tão envergonhado consigo próprio que entrou em casa apressadamente sem acrescentar uma palavra e atirou-se outra vez sobre a esteira. Contudo, parecia que a disputa lhe tinha feito bem, pois dormiu o resto da noite como uma criança. Havia semanas que não dormia daquela maneira. 'Mas eu não consegui dormir', interrompeu a jovem, que apoiara um cotovelo sobre a mesa e segurava a cara com a mão. 'Estava alerta.' Um relâmpago cruzou o seu olhar; os seus grandes olhos rolaram nas órbitas por um instante e depois fixaram-se atentamente no meu rosto.»