Factos! Pediam-lhe factos, como se os factos pudessem explicar tudo!
«Depois de ter chegado à conclusão de que tinham ido de encontro a qualquer coisa que flutuava à superfície, digamos, com os destroços de um navio naufragado, o seu capitão ordenou-lhe que fosse à proa verificar se o barco ficara danificado. Pensou que isso era provável devido à força do embate?», perguntou o juiz assessor sentado à esquerda. Tinha uma barba rala em forma de ferradura, maçãs do rosto salientes, e com ambos os cotovelos apoiados na mesa enclavinhava as mãos grosseiras uma na outra em frente da cara, e os seus olhos azuis, pensativos, fitavam Jim; o outro, um homem pesado, desdenhoso, atirado para trás no assento, com o braço esquerdo estendido ao comprido, tamborilava suavemente com as pontas dos dedos sobre um mata-borrão: no meio dos dois, o magistrado que presidia, muito direito na ampla cadeira de braços, com a cabeça ligeiramente inclinada sobre o ombro, tinha os braços cruzados sobre o peito e flores numa jarra de vidro ao lado do tinteiro.
«Não pensei», disse Jim. «Ordenaram-me que não chamasse ninguém e que não fizesse barulho para evitar o pânico. Pensei que era uma precaução razoável. Peguei numa das lâmpadas que estavam penduradas debaixo do toldo e dirigi-me para a proa. Quando abri a escotilha do pique de vante, ouvi um barulho de água. Baixei então a lâmpada na direcção da inclinação dos rizes e vi que o pique de vante estava já inundado até mais do que metade. Compreendi que devia haver um grande rombo abaixo da linha de água.» Calou-se.
«Sim», disse o assessor gordo, com um sorriso cismado r para o mata-borrão; os seus dedos continuavam a brincar e a tocar o papel sem ruído.
«Não pensei nesse momento que houvesse perigo.