A chama rubra e brilhante descreveu uma longa trajectória na escuridão, antes de cair na água com um silvo agudo, e a doçura da noite calma e estrelada desceu infrene sobre eles.
«Jim não contou o que disse quando recobrou finalmente a voz. Suponho que não se devia ter mostrado muito eloquente. O mundo estava silencioso, a respiração da noite corria sobre eles; era uma daquelas noites que parecem ter sido criadas para albergar todas as ternuras e em que há momentos nos quais as nossas almas, como que libertadas do seu sombrio invólucro, brilham com uma sensibilidade aguda que torna certos silêncios mais claros do que as palavras. Quanto à jovem, disse-me: 'Ficou semidesfalecida. A emoção... compreende? A reacção. Ela devia estar terrivelmente cansada... e todo o resto. E... e... ao Diabo tudo isto!... Ela gostava muito de mim, não percebe?... Eu também... mas não sabia, é claro... nunca me passou pela cabeça... '
«Nessa altura levantou-se e começou a andar para cá e para lá com uma certa agitação. 'Eu... eu amo-a com muita ternura. Mais do que consigo dizer. É claro que é muito difícil exprimir estas coisas. Vemos os nossos actos a uma luz diferente quando se chega a compreender, quando nos fazem compreender dia após dia que a nossa existência é necessária - compreende? -, absolutamente necessária, a outra pessoa. Ela fez-me sentir isso. É maravilhoso! Mas tente só imaginar o que tinha sido a vida dela até ali. É demasiado terrível, não é verdade? E de que maneira a encontrei... como quem vai dar um passeio e, de repente, vê alguém a afogar-se num lugar sombrio e solitário. Caramba! Não havia tempo a perder. E implica também uma espécie de confiança... mas eu julgo ser digno dela... '
«Devo dizer-lhe que a jovem nos deixara sozinhos uns momentos antes.