«Havia uma grande paz como se a Terra fosse um túmulo, e durante um tempo fiquei a pensar naqueles vivos que, perdidos em lugares remotos e desconhecidos dos homens, ainda mesmo assim estão condenados a partilhar as suas misérias trágicas e grotescas. Partilharão também os mais nobres combates... quem sabe? O coração humano é suficientemente vasto para conter o mundo inteiro e bastante corajoso para suportar o seu peso, mas onde estará a coragem para o rejeitar?
«Julgo que me abandonei a um humor sentimental; mas sei que permaneci lá o tempo suficiente para me deixar invadir completamente por um sentimento de tão extrema solidão que tudo o que vira ultimamente, tudo o que ouvira, até a própria palavra humana, parecia ter deixado de existir e só permanecer na minha memória como um eco mais uns instantes, como se eu fosse o último homem sobre a Terra. Era uma estranha e melancólica ilusão, meio inconsciente, como todas as nossas ilusões, que eu suponho serem apenas visões de uma verdade longínqua e inacessível, confusamente pressentida. De facto, este era um dos cantos perdidos, esquecidos, desconhecidos da Terra; tinha olhado por baixo da sua superfície opaca e sentia que, no dia seguinte, quando o tivesse deixado para sempre, ele desapareceria da existência para viver apenas na minha memória até eu próprio passar ao esquecimento. Ainda sinto assim, e talvez fosse esse sentimento que me levou a contar-lhes a história, a tentar passar-lhes, por assim dizer, a sua existência e a sua realidade, a verdade revelada num momento de ilusão.
«Cornélio expulsou essa ilusão. Saltou de repente, como um insecto nocivo, da erva alta que crescia numa depressão do solo. Julgo que a casa dele apodrecia ali perto, embora nunca a tivesse visto, nem tivesse avançado muito para aqueles lados.