Lord Jim - Cap. 37: Capítulo XXXVI Pág. 355 / 434

Mas que importa a distância? A virtude é só uma, e a toda a roda do mundo só há uma única fé, uma maneira concebível de se conduzir na vida e uma maneira de morrer. Espera que o seu 'querido Jaime' nunca se esqueça de que 'aquele que cede uma vez à tentação arrisca ao mesmo tempo a sua degradação total e a condenação eterna. Toma, portanto, a firme resolução de nunca fazer nada que julgues errado, seja qual for o' motivo'. Dá ainda notícias de um cão favorito, e o 'pónei que costumavam montar em crianças' cegara de velhice e tivera de ser abatido. O velhote invoca a bênção do Céu; a mãe e os irmãos, que estavam em casa, mandavam-lhe saudades... Não, não há grande coisa nessa carta amarelecida e puída, escapada da sua mão acariciadora depois de tantos anos. Nunca lhe respondeu. Mas quem poderá saber que conversas íntimas ele manteve com essas sombras plácidas e incolores de homens e mulheres que povoavam aquele canto tranquilo do mundo, tão livre de perigos e de lutas como um túmulo, e que respiravam igualmente uma atmosfera de imperturbável rectidão? Parece espantoso que ele pertencesse a esse ambiente, ele, com quem tantas coisas 'tinham vindo ter'. Nunca chegara fosse o que fosse até eles; nunca seriam apanhados desprevenidos nem nunca seriam chamados a encarniçar-se contra o destino. Aí estão todos evocados pelo doce tagarelar de um pai, os irmãos e as irmãs, carne da sua carne e sangue do seu sangue, com os olhos claros, e inconscientes da presença dele, enquanto me parece vê-lo finalmente de volta, não já um mero ponto branco no âmago de um enorme mistério, mas sim erguido a toda a sua altura, no meio das suas sombras impassíveis, com uma expressão séria e romanesca, mas sempre mudo e sombrio - sob uma nuvem.

«Você encontrará a narração dos últimos acontecimentos nas poucas páginas inclusas.





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