Tem de confessar que o fim é mais romanesco do que os mais ardentes sonhos da sua infância, e, contudo, parece-me ver aí uma espécie do lógica profunda e espantosa, como se apenas a nossa imaginação pudesse desencadear sobre nós a força destruidora do destino. A imprudência dos nossos pensamentos recai sobre as nossas cabeças; quem com ferros mata com ferros morre. Esta aventura espantosa, cuja característica mais espantosa é ser verdadeira, parece-nos uma consequência inevitável. Tinha de acontecer qualquer coisa do género. Repetimos isto a nós próprios enquanto nos maravilhamos que uma tal coisa pudesse ter-se passado há dois anos. Mas passou-se do facto - e não há que discutir a sua lógica.
«Exponho-lhe os factos como se tivesse sido testemunha ocular. As minhas informações são fragmentárias, mas liguei-as, e chegam para tornar o quadro inteligível. Pergunto a mim mesmo como é que o próprio Jim os teria narrado. Ele fizera-me tantas confidências que, por vezes, me parece que vai entrar de um momento para o outro o contar a história com as suas próprias palavras, na sua voz impessoal mas comovida, no seu estilo improvisado, um tanto desembaraçado, um pouco aborrecido, um tudo-nada doloroso, dando de vez em quando por meio de uma palavra ou de uma expressão vislumbres do seu foro íntimo que não chegavam para me orientar. É difícil acreditar que ele nunca mais virá. Nunca mais ouvirei a sua voz, nem verei o seu rosto liso e corado pelo sol, com uma linha branca na testa e uns olhos infantis que, sombreados pela emoção, se tornavam de um azul profundo e insondável.»