Lord Jim - Cap. 39: Capítulo XXXVIII Pág. 374 / 434

As encostas do cômoro estavam despidas de vegetação, mas havia algumas árvores no cabeço. Puseram-se a derrubá-las, para fazer um parapeito, e ficaram bem entrincheirados antes do cair da noite; entretanto, os barcos do rajá permaneciam no rio em singular neutralidade. Quando o Sol se pôs, o clarão de inúmeras fogueiras de mato, acesas na orla do rio e entre a dupla linha de casas no lado da terra, punha em relevo o negrume dos telhados, os grupos de palmeiras esbeltas e os ramos pesados das árvores de fruto.

«Brown ordenou que pegassem fogo à relva em volta da sua posição; um anel baixo de magras chamas alastrou-se rapidamente pelas encostas da colina, levantando densas nuvens de fumo; aqui e ali, um arbusto seco incendiava-se com um grande ruído sibilante. O incêndio limpou a zona de fogo para as espingardas do pequeno grupo e extinguiu-se lentamente na orla das florestas e ao longo da margem lamacenta do ribeiro. Uma faixa de matagal luxuriante, numa depressão húmida entre o cômoro e a paliçada do rajá, cortou as chamas daquele lado com fortes crepitações e detonações das canas de bambu a estalarem. O céu estava sombrio, aveludado, e formigava de estrelas. O solo, enegrecido, fumegava tranquilamente com um ligeiro crepitar, até que uma leve brisa arrastou tudo para longe. Brown esperava que desencadeassem um ataque logo que a maré estivesse suficientemente alta para permitir a entrada no ribeiro aos barcos que lhe tinham cortado a retirada. Em todo o caso, tinha a certeza de que haveria uma tentativa para arrebatar a chalupa, que jazia no sopé da colina, como uma massa escura sobre a camada baça de lama húmida. Mas os barcos no rio não fizeram nada nesse sentido.

«Por cima da paliçada e das habitações do rajá, Brown via os lumaréus dos barcos na água.





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