Quando compreendeu o que Brown queria, um sorriso homicida e presumido descobriu-lhe os dentes, cavando-lhe duas pregas nas bochechas macilentas e curtidas. Orgulhava-se da sua pontaria. Com um joelho em terra, apontou, apoiando a espingarda nos ramos intactos de um tronco de árvore, disparou e endireitou-se logo para observar. Lá ao longe, o homem voltou a cabeça com o estampido; deu um passo em frente, pareceu hesitar e tombou bruscamente sobre as mãos o os joelhos. No silêncio que se seguiu à seca detonação, o atirador, de olhos fixos na vítima, conjecturou que 'a saúde daquele negro não daria mais inquietações aos amigos'. Os membros do homem agitavam-se sob o corpo, num esforço para se arrastar de gatas. No espaço vazio elevou-se um grito múltiplo de pavor e estupefacção. O homem ficou estendido, de rosto no chão, e deixou de se mexer. 'Foi para lhes mostrar do que éramos capazes', explicou-me Brown, 'e para semear entre eles o terror da morte súbita. Foi isso que pretendemos. Eram duzentos contra um, e isso deu-lhes que pensar durante a noite. Nenhum deles suspeitava que fosse possível disparar um tiro a tão grande distância. Aquele velhaco, que era pertença do rajá, precipitou-se pela colina abaixo com os olhos esbugalhados.'
«Enquanto me dizia isto, Brown levantava a mão trémula para limpar a espuma dos lábios arroxeados. 'Duzentos contra um. Duzentos contra um... Eu infundia terror... terror, terror, digo-lhe... ' Os olhos também lhe saíam das órbitas. Caiu para trás, arranhando o ar com os dedos ossudos; depois soergueu-se outra vez, curvado e peludo, lançou-me um olhar oblíquo, como um lobisomem das lendas populares; permanecia de boca aberta, numa horrível e atroz agonia, antes do poder recobrar a fala. Há espectáculos que nunca se esquecem.