«Os seus pés estavam colados a esse ponto remoto e os seus olhos ao grupo confuso de homens dobrados, que se agitavam de modo estranho pelos tormentos comuns do medo. Uma lâmpada atada a um espeque por cima de uma pequena mesa que fora posta na ponte - o Patna não tinha câmara de vigia a meia-nau - iluminava-lhes os ombros atarefados, as costas arqueadas e bamboleantes. Empurravam o salva-vidas pela proa; empurravam-no para dentro da noite; empurravam-no e nunca mais voltariam a olhar para ele. Tinham-no abandonado como se na realidade estivesse longe de mais e tão irremediavelmente separado deles que não valesse a pena dirigir-lhe um chamamento, um olhar, um sinal. Não tinham tempo para contemplar o seu heroísmo passivo, para sentir a ferroada da sua abstenção. O salva-vidas era pesado; empurravam-no pela proa sem forças para pronunciarem palavras de reconforto: mas o tumulto de terror que dispersara ao vento a sua coragem como se fora palhaço convertera os seus esforços desesperados numa chocarrice digna das turbulências de palhaços. Empurravam com as mãos, com as cabeças, empurravam com todo o peso do corpo, para salvar a vida, empurravam com toda a força da sua alma porém, tão depressa conseguiam virar a proa para fora do turco, largavam o salva-vidas como um só homem e começavam como loucos a querer meter-se dentro, de roldão. Naturalmente o salva-vidas dava uma volta abrupta para dentro, impelia-os para trás, desamparados e a acotovelarem-se uns aos outros.