Lord Jim - Cap. 14: Capítulo XIII Pág. 154 / 434

' 'Não se morre de quê?', perguntei eu rapidamente. 'De medo'. Depois pôs-se a beber em pequenos goles.

«Vi que os três últimos dedos da mão em que tinha a ferida estavam dos e não os podia mexer independentemente uns dos outros, de maneira a e pegava no copo desajeitadamente. 'Está-se sempre com medo. Pudesse falar, mas...' Pousou o copo, canhestro... 'O medo, o medo - veja senhor -, está sempre aqui.'... Tocou no peito junto de um botão de metal, no mesmo lugar em que Jim dera uma palmada para asseverar que seu coração estava em bom estado. Suponho que devo ter dado algum o mal de não estar de acordo, porque insistiu: 'Oh, sim!, sim! Fala-se; tudo está muito bem; mas no fim de contas ninguém é mais esperto do que por qualquer - nem mais corajoso. Corajoso! É coisa que está sempre ra se ver. Esta carcaça (roulé ma bosse)', disse ele, e empregou este termo ; calão com imperturbável seriedade, 'andou por todas as partes do medo; conheci homens corajosos - alguns célebres! Allez!' Bebeu despreocupadamente... 'Corajosos... compreende... na marinha temos ser corajosos... o ofício exige-o (le métier veut ça). Não é assim?', apelava para mim com calma. 'Eh bien! Todos - digo «todos», se fossem honestos - bien entendu -, confessariam que há um momento - mesmo para melhores -, há um momento, não se sabe quando, em que a pessoa não se aguenta (vous lachez tout). E temos de viver com esta verdade está a ver? Dadas certas circunstâncias o medo não deixa de se manifestar. Um pavor horrível (un trac épouvantable). E mesmo para aqueles que não acreditam nesta verdade o medo existe na mesma - o medo de si próprios. Sem sombra de dúvida. Pode acreditar-me. Sim. Sim... Na minha idade sabe-se de que se está a falar - que diable!.





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