Capítulo 16: Capítulo XV
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Não há dúvida de que ele estava a atravessar um momento muito difícil, e eu também, até ao ponto de, devo confessá-lo, lhe desejar que fosse para o Diabo ou pelo menos para o recife de Walpole. Veio-me uma ou duas vezes à ideia que Chester era efectivamente o homem mais indicado para se ocupar de um desastre destes. Aquele estranho idealista encontrara imediatamente uma ocupação para ele, e estava certo. Era o suficiente para levantar a suspeita de que ele podia realmente descobrir o aspecto real das coisas, que pareciam misteriosas ou sem nenhum remédio a pessoas desprovidas de imaginação. Continuei a escrever durante muito tempo; e pus em dia toda a correspondência atrasada e depois escrevi ainda a muita gente que não tinha razão nenhuma para esperar de mim tanta tagarelice fútil. De vez em quando deitava um olhar de lado. Jim parecia pregado ao chão, mas o seu corpo era percorrido por estremecimentos e os seus ombros erguiam-se em bruscas convulsões. Ele lutava, lutava, e antes de mais nada para respirar. As sombras espessas projectadas para um só lado pela chama direita da vela estavam como que possuídas de uma consciência lúgubre; a imobilidade dos móveis parecia aos meus olhares furtivos extremamente atenta. Estava a deixar-me levar pela imaginação, no meio da minha aplicação a escrita. Embora, logo que o raspar da minha caneta sobre o papel parava um momento, houvesse um silêncio e uma calma completas no quarto, eu sentia aquela perturbação profunda e aquela confusão mental que provoca a aproximação de um tumulto violento e ameaçador - o de uma tempestade no mar, por exemplo. Alguns dos senhores conhecem isto, aquela mistura de ansiedade, de angústia, de irritação, a que se junta uma espécie de sentimento de cobardia, desagradável de confessar, mas que dá a capacidade de resistência um mérito todo especial.
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