Lord Jim - Cap. 27: Capítulo XXVI Pág. 271 / 434

De Dain Waris, o seu povo dizia com orgulho que ele sabia lutar como um branco. Era verdade; ele tinha esse género de coragem - a coragem de lutar em campo aberto - e também um espírito europeu. Encontram-se por vezes malaios assim e fica-se surpreendido ao descobrir inesperadamente uma maneira de pensar que nos é familiar, uma visão clara, uma firmeza de propósitos, um certo grau de altruísmo. De pequena estatura, mas admiravelmente bem proporcionado, Dain Waris tinha um porte orgulhoso, era elegante e afável nas atitudes e o seu temperamento assemelhava-se a uma chama clara. O rosto escuro, de grandes olhos negros, era expressivo na acção, pensativo no repouso. Era silencioso por natureza, mas a firmeza do olhar, a ironia do sorriso, a ponderação cortês das suas maneiras, pareciam sugerir grandes reservas de inteligência e de força. Tais seres abrem os olhos dos Ocidentais, tantas vezes preocupados apenas com superficialidades para as secretas possibilidades de raças e países sobre os quais paira o mistério de idades perdidas nos tempos. Ele não só confiava em Jim, como até o compreendia, estou certo. Falo dele porque me cativou. A sua placidez cáustica - se me é lícito dizê-lo - e, ao mesmo tempo, a sua simpatia inteligente pelas aspirações de Jim, conquistaram-me. Parecia-me contemplar as próprias raízes da amizade. Jim tomara o comando, mas o outro conquistara o chefe. De facto, Jim, o chefe, era prisioneiro em toda a acepção da palavra. O país, o povo, a amizade, o amor, eram como que os guardiões ciumentos do seu corpo. Cada dia juntava um novo anel à cadeia daquela estranha liberdade. Adquiri esta convicção à medida que, dia após dia, ia tendo conhecimento do desenrolar da história.

«A história! Quantas vezes a ouvir contar! Ouvi-a contar em marcha, no acampamento.





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