Lord Jim - Cap. 29: Capítulo XXVIII Pág. 290 / 434
É um negócio, compreende? Sei de pessoas que comprarão tudo o que merecer a pena e que lhe darão mais dinheiro do que o que esse patife já viu nos dias da sua vida. Conheço esse género de tipos.' Olhou-me fixamente com os dois olhos abertos, enquanto eu continuava de pé, espantado, e perguntava a mim próprio se ele estaria louco ou bêbado. Suava, bufava, ofegava, gemia baixinho e coçava-se com uma compostura tão repugnante que não pude suportar a cena tempo suficiente para descobrir o que ele queria dizer. No dia seguinte, a tagarelar com os familiares da pequena corte local, vim a saber que se propagava lentamente ao longo da costa uma história acerca de um misterioso homem branco de Patusan que se apoderara de uma gema extraordinária, uma esmeralda de enormes dimensões e de valor inestimável. Parece que a esmeralda excita mais a imaginação oriental do que qualquer outra pedra preciosa. Disseram-me que o branco a tinha obtido, em parte graças à sua força prodigiosa e em parte por astúcia, do governador de um país longínquo, donde tinha fugido logo a seguir, para chegar a Patusan num estado de miséria total; assustara os indígenas com uma extrema ferocidade que nada parecia capaz de apaziguar. A maior parte dos meus informadores eram de opinião que a pedra devia ser provavelmente fatal, como a famosa pedra do sultão de Succadana, que, em tempos antigos, desencadeara guerras e calamidades inauditas sobre esse país. Talvez fosse a mesma pedra - nunca se sabia. Na verdade, a lenda de uma esmeralda de tamanho fabuloso é tão velha como a chegada dos primeiros brancos ao arquipélago; e a crença está tão arraigada que, há menos de quarenta anos, as autoridades holandesas tinham feito um inquérito oficial para saber o que havia de verdade nessa história.